Aquelas coisas que ficam engasgadas na garganta atravancando a degustação de novas experiências precisam ser expelidas uma hora ou outra. Ninguém consegue viver assim com um bloqueio. E dar sequência, mesmo com o esôfago machucado, é preciso. Ultrapassar os próprios limites faz bem pro coração, corpo e mente. É por isso que tentamos escalar os picos mais altos do mundo. E os nossos, aqueles internos, parecem que dão mais medo. Mas é nesse limite que vamos nos conhecendo, rompendo. Fácil não é, mas o caminho é interessante. E aos poucos retomamos o apetite, incluímos novos temperos arriscando até uma gourmetizada, mas sem firulas. E o aprendizado maior de todos nesse processo conturbado de escalar o eu é que a falta está para o desejo assim como a fome está para o apetite. Devem coexistir.
O lado bom da vida é poder se descobrir nesses enfrentamentos. A gente erra, quebra a cara, se sente um lixo. Vai vivendo com essa dor, ruminando culpa e as vezes raiva - hora de si mesmo ou dos outros, dos fatos, do mundo. Encará-los numa perspectiva diferente parece impossível enquanto você vive aquela angústia nova. Mas depois isso vai se dissipando, como uma nuvem carregada dando lugar ao sol. Daqui a pouco você nem se lembra mais daquela dor no peito. Talvez seja até importante tentar guardar essa memória para ver se erra um pouco diferente lá na frente. Mas sei lá, penso que a gente não aprende tanto assim quando o assunto é coração. Erramos parecido quando o tema são as escolhas. Só que é aí que tá o segredo do chef. Pena que não tem curso de gastronomia de si. Nessa cozinha, o jeito é testar e colecionar queimaduras.
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