segunda-feira, 27 de julho de 2015

90 dias com ela

O menino conhece a menina. E foi assim com a gente. Como toda comédia romântica que se ancora nesse porto. Um relacionamento com fases bem cinematográficas. A espera, o desejo, a observação distante... até o dia em que conversávamos ao vivo naquele café, ao som de um duo de cellos. Pulamos a parte do desentendimento, ou melhor, nos desentendemos antes mesmo de nos encontrar. Você não sabia até agora (ou talvez já tivesse deduzido), mas eu falava internamente depois das inúmeras vezes que tentei o encontro ao vivo e você me dava um não, quando ficava sem me responder as investidas, que não tentaria mais. Me desentendia comigo mesmo e prometia, em vão, te ignorar. Como fiz nas primeiras tentativas há mais de um ano atrás. E dia mais dia, voltava. O coração falava mais alto. E batia mais forte.

Ufa, os protagonistas finalmente ficaram juntos. 90 dias com ela. 90 dias de Tom and Summer. Mais bela que na telona. Meu Tom vivia o mesmo problema: a descrença no amor. E não queria viver a inversão de expectativa do filme na vida real. E o fato é que considerava essa uma possibilidade com boas chances de acontecer. Em muitos eventos, nas frases soltas e até na insistência para vermos o filme que dá nome a essa história. Conexões sensíveis. Detalhes pequeninos que fazem toda a diferença. Éramos nós ali. Interpretados numa metalinguagem em que nossos personagens imprimiam um ritmo próprio, mas cada um ao seu beat. E eu só queria que o tempo fosse o mesmo. Desejei essa parte tão forte que mal pude prestar atenção em algumas pequenas partes do filme. O cheiro do seu cabelo, o calor da sua cabeça no meu ombro, um misto de sensações tão fortes e tão gostosas rompiam com aquele frio na barriga de viver o Tom na vida real. Que seja 500 dias, disse pra mim mesmo.

Dos variados pontos de vista, "honestidade" me parece o mais apropriado pra encarar a situação. Você disse não achar justo estar comigo sem querer ter um relacionamento sério, sem gostar de mim o quanto eu gosto de você (ok, eu ainda acho que não exista uma métrica pra isso) e sem saber o que quer realmente da vida. Eu ali, acreditando ter encontrado a Summer que seria uma estação longa e duradoura, sobrevivi a um pedaço de outono-inverno. Não havia intenção de dar nome, muito menos de "namorado" (olha o Tom aqui de novo). A ideia era ser casual. Eu não compreendi.

Subversivo (melhor que dizer "taurino teimoso"), não li o roteiro. Ignorei o diretor e quis improvisar. Estava apaixonado. Porra nenhuma, eu amava sem medida: a melhor medida de amar. Não confundi o coração em nenhum momento. Era isso e ponto. Vai fundo, amigão! Se for se foder, que seja de verdade, com os dois pés na lama, dedos abertos e salpicadas de barro na cara, que é para lembrar que esteve na trilha, sem frescura. Apenas sinto-lhe informar que estava sem navegador, sem mapa. E seu diretor já havia abandonado o set.

Essa é uma visão singular. Nossa história por eu mesmo. O filme todo sob a minha perspectiva. Ator da minha própria comédia romântica, sem saber retratar no papel a visão da cidade e sem um banco em um belo parque. Mas espero vê-la em breve e dizer que os 90 dias com você fizeram parte da melhor tentativa de chegar nos 500. Ou da primeira... Nunca se sabe quando haverá um louco diretor querendo fazer um remake. Duvido que haja esperança mais forte do que essa.