domingo, 18 de março de 2018

Das lágrimas e o tempo

Nessa noite escura, imagino seus olhos brilhando como duas estrelas cintilantes no céu.
As lágrimas que escorriam pelo seu rosto quando me dizia que estava sem palavras eram como cascatas belas de um ponto turístico que eu desejava visitar.
Todo o calor que eu sentia vinha do seu abraço.
Era como uma salvação no meio de uma geleira.
Não havia melhor lugar para estar.
Não teria para onde fugir, a não ser me confortar no seu peito.
Fomos ali como duas engrenagens que funcionaram na mais perfeita simetria.
Poderíamos até ter sido um relógio suíço tamanha era a sincronia.
Que os ponteiros continuem a girar na imaginação...





Regra de Três

Quanto tempo é necessário para que haja sintonia e cumplicidade?
E o que faz com que essas coisas existam?
Coincidência significativa, universo, coisas espirituais...
O olhar incomum - para não dizer fora da caixa (já está um pouco batido), tem papel central.
Claro que há uma pequena intuição quando se compartilha tanto da sua própria vida.
Quando despimos de todas as máscaras sociais e ficamos nus com as nossas verdades, angústias, medos e desejos...
Quando falamos sobre tudo o que gostamos e que poucas pessoas sabem ou querem saber....
Sejam músicas, poemas, livros, filmes... ou qualquer coisa pequena e boba do dia a dia, mas que parece fazer sentido ser dito, mencionado...
E essa intuição, silenciosamente, te diz que está tudo bem.
Que ali você pode.
Que ali tem troca.
Que ali é bom.
E você acredita. Se joga.
Se lança ao mar como uma âncora anseia pelo fundo.
As palavras nos devoram quando as tiramos de dentro.
Mas a devolução carinhosa e firme, como um frescobol bem jogado, nos salva.
Sorrisos vêm à tona em frequências cada vez maiores.
E fora preciso quantas vezes?
Três vezes conspiração do acaso.
E nem é preciso multiplicar por cem mais.
Já é inteiro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

10 de agosto

Há dias que ficam marcados na lembrança por trilhas sonoras. Não estou falando de novelas, mas de acontecimentos no nosso cotidiano em que somos os atores principais ou coadjuvantes, no caso de uma pessoa ter roubado a cena. Roubado não, ter feito do roteiro uma verdadeira obra de arte. Volta pro foco.

Letras que transmitem, em alusão ao próprio nome da banda, e falam sobre ver outra vez um pedaço de mim que ficou esquecido. O reencontro com os sentidos que despertam o que há de melhor em nós. Dar nome para essas sensações sem cair no pegadinha que é ser clichê é difícil. Mas sei que aquela parte da música em que diz que

"Pra que pensar em voltar atrás
Se nós queremos mais
"

Faz muito sentido. Porque aquela hora do abraço forte e envolvente havia uma verdade ali. Um querer mais. E teve. Os dois rios que se encontram, desaguando como o rio negro e solimões, inteiros, balançando as águas de um lado para o outro, complementando...

Recorro à música novamente para falar que "dessa vez eu vou tentar dizer a verdade, não foi tão fácil de enganar a minha vontade...(...) foi difícil ser ator com essa idade" porque chega uma época em que fingir já não é nem cogitado. E aí você não corre de ninguém. Não amarela na beira do precipício com a mochila do paraquedas, mesmo sem saber se a cordinha está lá.

Feliz do compositor que encerrou dizendo que "não vou correr de você". Feliz de nós que ouvimos ao vivo no primeiro dia. Que venha a quinta.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Quarta-feira tem mais

Chegou em casa cansado do trabalho e começou a colocar as coisas no lugar. Haviam caixas espalhadas pelo quarto. Seus pertences ainda guardados da recente mudança faziam da travessia no cômodo um jogo tetris. Na difícil arte de se concentrar em fazer apenas uma coisa, lembrou daquele sorriso que há meses o fazia visitar um certo perfil. Esse modus operandi faz qualquer coach até tremer. Em voz off, ouvia: foco. Mas queria ir lá, ver de novo. Foco na mudança. Rompimentos, términos, troca de rota, de rumo, de lar. Nem é preciso dizer que há prós e contras. Dependendo do estado de espírito, um desses lados pesa mais que o outro. Mas a vida não te dá colher de chá enquanto você sofre em posição fetal no chão do quarto novo. O frio machuca também. Tomar a decisão de romper logo com o que não faz bem é tão importante quanto detectar o que não te faz bem. E dar barrigada nessas coisas é pura besteira. A gente fica cheio de medo, do tipo "mas se eu fizer...". Mas se porra nenhuma. Faça! Porque a última coisa que você quer é continuar a se sentir mal por algo e se sentir mal por não mudar o que te faz sentir mal. Olha a bolha que a gente se mete por ser cuzão. Mas aí o doidin, depois desse devaneio todo - e ainda era jogo do Galo!, o inexplicável time do amor, resolveu tomar banho. E quando entrou no banheiro o bendito do sorriso não lhe saía da cabeça. Resolveu, então, fazer uma loucura: procurar aquele sorriso num lugar virtual em que poderia demonstrar seu interesse de maneira privada. E lá ficou quase uma hora descartando outros sorrisos. Quando quase desistiu, usou de novos subterfúgios: curtir as fotos mais interessantes. E não é que um recurso quase esquecido ao estilo dar dois toques no ombro, vulgo cutucada, notifica o ato: o descobriu, desmascarou... e retribuiu. E se descobriram durante horas depois. O que tocou a seguir foi música para os ouvidos de quem a aprecia. Não há nada concreto a não ser o sorriso daquele que voltava ao quarto novo, tirando as caixas do lugar de passagem. Dormiu feliz. E de banho tomado, alma e corpo.





terça-feira, 5 de abril de 2016

Miragens

Via miragens entre as entrelinhas.
Oásis que estavam lá nas paisagens de concreto.
Códigos binários que possibilitavam o encontro.

Enquanto ele,
o encontro concreto,
com ou sem paisagem,
se fazia distante.

E nutria na miragem uma vontade doce e antiga
sem prazo de validade.
Queria cortar caminhos,
fazer valer do peito para fora. E deu-se em muro.

As entrelinhas se fechavam
e nada tinham com ele.
Sentiu sozinho e falou
a língua do erro.

Se projetou
não calculou
desvios possíveis
acreditava que... era possível.

Tolo, bateu e feriu.
Depois, o deserto.
Toda explicação é areia vagando com o vento
E vento gelado cortando a pele dói. Feriu-se.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Impeachment

Amar deveria ser exercício livre, desimpedido. Mas há gente que teima em sempre estar à frente do último zagueiro. Que, quando o goleiro do time defende o chute certeiro do arquirrival e lança a bola em contra-ataque, sai correndo desembestada sem olhar a linha malandra que a zaga fez.
Era pra ser um belo gol.
Foi só correria.
E perdeu.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Lindos saltos, duras quedas

É preciso ter coragem para saltar de alturas que dão frio na barriga. Mas a vida requer de nós um pouco mais do que o senso comum tenta nos ensinar. E se jogar às oportunidades faz parte da vida de quem arrisca e, vez ou outra, acerta, ganha. O restante fica para aprendizado, acumula experiência.
Mas saiba, não é porque o salto é ornamental e bonitão que o que te esperará lá em baixo seja uma linda porção de água oceânica azul clarinha. Algumas vezes, dará de cara no solo de concreto e se quebrará todo. E o melhor de tudo é levantar-se, passar os dias suficientes internado, ter alta e voltar a se arriscar. Vida que segue.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Cuspe no chapisco

A mesma música ainda toca no rádio. Posso mudar as estações, um rodopio sem fim no dial. E ela teima em tocar. Volta e meia toca. Novos e velhos artistas se misturam e bailam nas minhas playlists. Mas um descuido e há um intervalo publicitário dentro da minha cabeça. Inter(rompe) a programação. É a propaganda marginal. Invasiva. Aquela música grudou feito chiclete no cabelo. Dos que causam até raiva de tanto que se emaranham entre os fios. Nem gelo resolve. E você o deixa ali por um tempo, acostumando-se à ideia de que se deu mal.
Harmonia e melodia conhecidas, volta aquela canção. Já sei todos os versos de cor, o beat, a sequência de compassos. Independe do player, ela toca mesmo quando o fone está ocupado com outras. Sua capacidade de escolha já foi pro saco e ela ri. E retoma de onde parou. Você é um grude, moça.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Tropeços nos mais belos bits

Andando distraído pelas ruas digitais, me deparei com aquele semblante convidativo a um mergulho cibernético, vulgo stalkear. Foram umas horas bem gastas, se contar as inúmeras idas e vindas durante vários e vários dias. Ler cada detalhe era um exercício divertido, pois à cada repaginada ou f5, vinha uma percepção diferente. As fotos dizem muito sobre como queremos ser percebidos pelas pessoas. E quando elas compõem uma harmonia texto-imagem fica mais fácil se interessar. Mas essas coisas são coisas de gente doida, que faz sinapses até com som de passarinho em dia de chuva. É como aquela história do cara que tá apaixonado e até o jeito do garçom oferecer um copo de água da torneira o faz suspirar, imaginando que aquilo tem tudo o a ver com o elo entre ele e a dita cuja, atriz principal do filme em cartaz no coração. E que por isso, claro, o destino diz que devem ficar juntos. Quem sente a vida pulsar dessa forma se torna um bobalhão diante das coisas. Mas essa sensação boba, que vez ou outra alegra o coração, é que faz tudo valer à pena.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Das pequenas queimaduras do dia a dia na sua cozinha interna

Aquelas coisas que ficam engasgadas na garganta atravancando a degustação de novas experiências precisam ser expelidas uma hora ou outra. Ninguém consegue viver assim com um bloqueio. E dar sequência, mesmo com o esôfago machucado, é preciso. Ultrapassar os próprios limites faz bem pro coração, corpo e mente. É por isso que tentamos escalar os picos mais altos do mundo. E os nossos, aqueles internos, parecem que dão mais medo. Mas é nesse limite que vamos nos conhecendo, rompendo. Fácil não é, mas o caminho é interessante. E aos poucos retomamos o apetite, incluímos novos temperos arriscando até uma gourmetizada, mas sem firulas. E o aprendizado maior de todos nesse processo conturbado de escalar o eu é que a falta está para o desejo assim como a fome está para o apetite. Devem coexistir.

O lado bom da vida é poder se descobrir nesses enfrentamentos. A gente erra, quebra a cara, se sente um lixo. Vai vivendo com essa dor, ruminando culpa e as vezes raiva - hora de si mesmo ou dos outros, dos fatos, do mundo. Encará-los numa perspectiva diferente parece impossível enquanto você vive aquela angústia nova. Mas depois isso vai se dissipando, como uma nuvem carregada dando lugar ao sol. Daqui a pouco você nem se lembra mais daquela dor no peito. Talvez seja até importante tentar guardar essa memória para ver se erra um pouco diferente lá na frente. Mas sei lá, penso que a gente não aprende tanto assim quando o assunto é coração. Erramos parecido quando o tema são as escolhas. Só que é aí que tá o segredo do chef. Pena que não tem curso de gastronomia de si. Nessa cozinha, o jeito é testar e colecionar queimaduras.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quando o sino toca e você faz música a partir do estalo do metal

Não era questão de tempo. Era peso. Mas que diabos de peso é esse, infeliz?! Estou tentando falar que é o contrário. Ser leve, tornar as coisas menos densas. Companheirismo e amizade são muito mais importantes. Mas você precisa começar sendo companheiro de si mesmo. Em determinados momentos, só sua companhia basta. E assim você entra em uma jornada mais tranquila, dando condições - e não tempo - da vida te retribuir à altura. Relações recíprocas surgem de dentro para fora, não o contrário. Esteja bem e preparado para receber o que está por vir. Virar a chave, encarar a dor, se esquivar de alguns golpes e retomar o fôlego.

A ideia é não cair nas pegadinhas que te apregoam por aí. Ninguém é de ninguém. E não é porque os tribalistas cantaram. É porque é assim que a banda-vida toca, mermão. Penso nisso há dias. E chego à conclusão de que a imbecilidade em que nos metemos e as escolhas erradas que fazemos são parte de um aprendizado doloroso, mas necessário - porque antes eu pensei em tudo quanto é coisa, e claro que não de forma racional. Você toma porrada , fica lento e não concatena as ideias, só quer bater de volta. É aquela sensação de estar ali, nas cordas, segurando jabs e ganchos do oponente. Mas agora gargalho dessas porra tudo, assim mesmo, sem concordância.

E tenho vontade de te contar e rir disso tudo, juntos. Porque a companhia me fazia muito bem. E ela ainda deve fazer. Confesso que existe uma puta d'uma saudade. Que ainda preciso dar um chega pra lá quando bate. Ironia do coração. Mas o coração a gente enfrenta, na marra. E segue adiante, pra outro ringue.
...

Quando ele me contava essa história, não acreditava muito em tudo porque havia muita paixão naqueles olhos. Imaginava que tudo o que ele disse ter vivido não tivesse sido tão legal assim. Mas é duro julgar. Só ele sabe as sensações e sentimentos, eu estava de fora ouvindo. O que me deixou satisfeito foi ver que a história agora era contada como uma espécie de superação e descoberta interior. Penso que esses mergulhos ajudam a tornar a vida mais amena, colorir o que precisa de cor e apagar os traços que estão ficando tortos na hora de desenhar as linhas retas. O sino toca. Nocaute. Ele vence e eu comemoro.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Apesar da crise...

Eu não tenho essa resposta, cara! Fico me martelando dia após dia com essa mesma questão na cabeça. Já pensei que nós temos o amor que merecemos, que ela não mereça ou que tudo isso faz parte de uma jornada necessária, um tipo de caminho já traçado, cujo objetivo seja nos ensinar alguma coisa. Esse aprendizado seria usado em experiências futuras. Mas a julgar pela contra-lógica que opera o nosso coração, é mais fácil quebrarmos a cara um milhão de vezes e repetir as mesmas reclamações, frustração após frustração. Fazer o que?!

Quem é do amor não consegue virar a chave e se tornar um frio. É como um competidor de salto ornamental passar a frequentar apenas piscinas rasas. Não vai dar liga. Ser metade é para os outros. Nós nos jogamos inteiros nesse abismo sem saber o que está lá em baixo nos aguardando. E ainda curtimos a vista enquanto caímos kamikazes, com beijo no ombro e o escambal. A queda é dura. Quebra-se braços, pernas, cabeça e todas as juntas. No final, juntamos os cacos. E passamos pelas fases de sofrer, arder, colar e recomeçar. Sempre com a promessa de que a próxima vez será diferente. E será mesmo. Com outro nome. Apenas. Não ria quando ouvir por aí que o amor é uma dor. Pode ser que quem disse a frase esteja todo remendado, que nem você agora.

Se faz sentido você compreender tudo isso que eu estou tentando te dizer há tempos, eu não sei. Mas um alto e claro "se liga, mané" pode resumir minha pequena mensagem humilde. Com tudo isso, frustração, não-reconhecimento, descarte etc, você pode ficar puto da vida, querer arrancá-la daí de dentro e nunca mais se envolver com ninguém. Mas essa coisa filhadaputadedanada chamada amor vai fervilhar por um bom tempo. Porque crise mesmo é não amar.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

De um observador-participante ou Relatos da alegria repentina que pairou sobre o sujeito

E ele achava que quando disseram que quem muito se ausenta, um dia deixa de fazer falta, falavam a verdade. Só esqueceram de lhe dizer que ela é absolutamente individual e não pode ser aprendida. A falta, quando se tem essa coisa forte introjetada sob a pele, correndo nas veias e sendo bombeada junto com o sangue pelo coração, só aumenta à medida em que é sentida. Uma long tail ao contrário, cujo pico é no final.

O cume seria voltar ao estado da graça. Estar junto. E ele sonha. Muitas vezes de olhos bem abertos e atentos, tocando o tapete mágico travestido de pensamentos e misturados com as lembranças sensoriais... ah, aquele cheiro, os cabelos que se enrolavam nos dedos e na voz doce dizendo para parar o beijo intenso. Trafego entre a admiração e dó desse rapaz.

Intenso é isso. É não ter e pensar em ter de novo. É não se conter com a distância, é amar até a última gota e força que houver, mesmo no estado do "não há por agora nada além das teimosas lembranças", da falta pura, da pura falta de sacanagem porque o amor também tem seu lado quente e sacana. Vejo-o aprender com os dias. A ter certeza de que amores não são descartáveis como prega o mundo.

Quem diz que tudo passa a ele não sabe que ele não quer que passe. O mundo pode não ser legal para os que sonham, mas que se foda o que dizem que o mundo é. Transgredir essa falácia. Esse é o objetivo dele. Não quer trocar de amor como se troca de roupa porque o amor já estava lá quando ele o reconheceu, não foi uma escolha. Torço por ele pela força e honestidade com que me relata seus dias de trapo [grifos meus para dias de saudade]. E reconheci que era verdadeiro mesmo quando ele me disse sobre a pequena troca de mensagens triviais e como elas reviraram-no por dentro. Quem o rodeava não prestou atenção na pele mais corada, no sorriso mais aberto e na respiração mais pausada, como se o tempo tivesse parado com ele ali, diante do aparelho em suas mãos. Eu vi e fui testemunha do bem que ela faz a ele, mesmo sem saber.

domingo, 9 de agosto de 2015

O dia em que a dor perdeu

O mundo tem sido uma grande orquestra, cujos acordes e melodias são manifestados em coisas totalmente aleatórias, vibrações sonoras naturais ou remixadas. E cada nota me lembra você. Alguma coisa que instigue minha memória traiçoeira, forte e teimosa. Um riso frouxo dentro do ônibus, a moça que ajeita o cabelo da mesma maneira que você - retirando-o da frente dos lábios quando nos beijávamos doce ou vorazmente, os raios de sol que entram pela janela como os que cintilavam e douravam sua pele nos ares do deserto. E quem diria que hoje eu estaria secando como aquelas areias e montanhas.

As melodias que me trazem à tona seu rosto tocam fundo minha alma. Dia após dia. Em silêncio, me devoro inteiro, consumido pela vontade de te procurar e te dizer tudo o que você já sabe. Tenho medo de errar, de dar um passo em falso e acabar com toda a possibilidade futura que eu nem sei se existe. Sina de quem sonha é, nos momentos de pés no chão, achar que pode não dar certo. Quero tocar todas as melodias lindas e doces. Seria indescritível se você sentisse o mesmo que eu sinto quando ouço as canções que me levam até você, o mundo que me leva até você. O eu que me conecta a você.

Concerto que não acaba, parece que as páginas do livro do maestro estão em loop e seus gestos se alternam entre reger a orquestra e me dar empurrões para frente. É como se dissesse ao meu ouvido que posso seguir tranquilo e confiante, que há páginas boas para frente e que estamos em uma pequena pausa para um momento dramático. Apenas uma vez e suas canções me fizeram chegar até aqui porque o amor é maior que tudo, inclusive a dor.

terça-feira, 28 de julho de 2015

O som metálico da ficha que cai e ecoa na cabeça

Ficar longe parecia uma estratégia promissora. Seria um case de sucesso se tivesse dado certo. Ao passo que o tempo passou, regressei dez casas na arte de sorrir. É como se a capacidade fosse diretamente proporcional à sua presença. E nem precisa ser a física. Não é caso de dependência. É uma espécie de contribuição para o bem. Se não está aqui, há seriedade. Quando está, o sorriso sério e alegre teima em ficar. Aquelas lembranças bobas que te fazem sorrir de canto de boca, sabe como que é? Aquele riso frouxo, safado, como quem não quer nada e quer tudo. O sorriso sincero. Ah, como eu quero te ver e te dizer o quanto eu sinto por ter atropelado o tempo e passado por cima de todas as dificuldades que sempre me deixou claro. Sua honestidade versus minha cara de pau em desafiar tudo e todos. Até você mesma. Estou compreendendo às duras penas que parcimônia deveria ter sido a palavra de ordem. E que eu deveria ter sido menos egoísta de querer-te como eu quis. Seu tempo não é o meu tempo. E que tudo o que se passa aí dentro seja resolvido da melhor forma. Minhas mãos, meus ouvidos e meus braços estarão sempre disponíveis para você quando apenas a sua companhia não bastar. Terás a mim, como te tenho em meu coração.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

90 dias com ela

O menino conhece a menina. E foi assim com a gente. Como toda comédia romântica que se ancora nesse porto. Um relacionamento com fases bem cinematográficas. A espera, o desejo, a observação distante... até o dia em que conversávamos ao vivo naquele café, ao som de um duo de cellos. Pulamos a parte do desentendimento, ou melhor, nos desentendemos antes mesmo de nos encontrar. Você não sabia até agora (ou talvez já tivesse deduzido), mas eu falava internamente depois das inúmeras vezes que tentei o encontro ao vivo e você me dava um não, quando ficava sem me responder as investidas, que não tentaria mais. Me desentendia comigo mesmo e prometia, em vão, te ignorar. Como fiz nas primeiras tentativas há mais de um ano atrás. E dia mais dia, voltava. O coração falava mais alto. E batia mais forte.

Ufa, os protagonistas finalmente ficaram juntos. 90 dias com ela. 90 dias de Tom and Summer. Mais bela que na telona. Meu Tom vivia o mesmo problema: a descrença no amor. E não queria viver a inversão de expectativa do filme na vida real. E o fato é que considerava essa uma possibilidade com boas chances de acontecer. Em muitos eventos, nas frases soltas e até na insistência para vermos o filme que dá nome a essa história. Conexões sensíveis. Detalhes pequeninos que fazem toda a diferença. Éramos nós ali. Interpretados numa metalinguagem em que nossos personagens imprimiam um ritmo próprio, mas cada um ao seu beat. E eu só queria que o tempo fosse o mesmo. Desejei essa parte tão forte que mal pude prestar atenção em algumas pequenas partes do filme. O cheiro do seu cabelo, o calor da sua cabeça no meu ombro, um misto de sensações tão fortes e tão gostosas rompiam com aquele frio na barriga de viver o Tom na vida real. Que seja 500 dias, disse pra mim mesmo.

Dos variados pontos de vista, "honestidade" me parece o mais apropriado pra encarar a situação. Você disse não achar justo estar comigo sem querer ter um relacionamento sério, sem gostar de mim o quanto eu gosto de você (ok, eu ainda acho que não exista uma métrica pra isso) e sem saber o que quer realmente da vida. Eu ali, acreditando ter encontrado a Summer que seria uma estação longa e duradoura, sobrevivi a um pedaço de outono-inverno. Não havia intenção de dar nome, muito menos de "namorado" (olha o Tom aqui de novo). A ideia era ser casual. Eu não compreendi.

Subversivo (melhor que dizer "taurino teimoso"), não li o roteiro. Ignorei o diretor e quis improvisar. Estava apaixonado. Porra nenhuma, eu amava sem medida: a melhor medida de amar. Não confundi o coração em nenhum momento. Era isso e ponto. Vai fundo, amigão! Se for se foder, que seja de verdade, com os dois pés na lama, dedos abertos e salpicadas de barro na cara, que é para lembrar que esteve na trilha, sem frescura. Apenas sinto-lhe informar que estava sem navegador, sem mapa. E seu diretor já havia abandonado o set.

Essa é uma visão singular. Nossa história por eu mesmo. O filme todo sob a minha perspectiva. Ator da minha própria comédia romântica, sem saber retratar no papel a visão da cidade e sem um banco em um belo parque. Mas espero vê-la em breve e dizer que os 90 dias com você fizeram parte da melhor tentativa de chegar nos 500. Ou da primeira... Nunca se sabe quando haverá um louco diretor querendo fazer um remake. Duvido que haja esperança mais forte do que essa.

domingo, 26 de julho de 2015

Apenas por um dia

Uma sensação maravilhosa. Aquele arrepio na base da espinha e que sobe devagar como uma erupção em slow motion... E eu fui rei. E você minha rainha. Em nada afastados, juntos, no trono. Assento duplo e não dividíamos o espaço nem com um mísero encosto de braço. Em um momento foi todo nosso. Fomos heróis.

Nós podemos vencer e sermos heróis sim. Nós podemos. Não há nada que possa nos deter. Aceitamos o amor que achamos merecer. E merecemos um ao outro. Mesmo você fazendo as escolhas erradas. Mesmo com os caminhos seguindo direções opostas... Eu deveria avisá-la que esse caminho não é bom. Vamos vencer, apenas por um dia.

Enquanto você luta eu bebo. Todos os dias. O gosto é da derrota, mas apenas de uma batalha. Ainda restam muitas. E ainda podemos vencer. Podemos ser amantes, como cantava aquela canção que ouvi quando você foi embora. Apenas por um dia. Vamos vencer. Somos apenas isso. Um fato.

Embora nada  nos mantenha juntos, poderíamos enganar o tempo, voltar atrás, apenas por um dia. Àqueles dias que sorríamos juntos e eu me senti infinito, sentindo o vento no rosto e de braços abertos vendo as luzes dos prédios. Passamos pelo túnel e lá ainda estava o seu olhar. A me encarar como um herói. Apenas por um dia. O que você me diz? O que acha de para todo o sempre?

As ondas te levam para outro lugar e eu gostaria que você soubesse nadar. Nada poderia nos deter e estaríamos juntos. Apenas por um dia. Tudo faria mais sentido. Nós ainda podemos vencer.Não somos nada e talvez não há nada que nos ajude. E talvez isso seja uma mentira, talvez o que vivemos seja uma mentira. Não seja seguro. Talvez...

Mas fique, apenas por um dia. E seja herói comigo. Apenas por um dia. E quem sabe você saberia que merece mais? Podemos tentar. Apenas por um dia.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O tiro no pé

Acreditei que você havia entendido o que eu disse semana passada. Ingenuidade minha. Sua completa ausência é difícil de entender, pois eu penso que quando gostamos de alguém, tentamos ser presentes da forma como der, seja numa mensagem, um email, uma ligação, qualquer coisa.

É muito novo pra mim não esperar nada de alguém. E eu sei que não era pra ser assim. Ou era. Esse nada é, na maior parte das vezes, interpretado como desinteresse da sua parte. E questiono se você gosta de mim. E tenho medo que a afirmação seja negativa. Pobre homem. Veja só, parece que estou mendigando o seu amor. Porque, no fim das contas, é o que quero. Amar e ser amado por você.

Não posso ter vergonha disso, tampouco medo de dizê-lo. Quero te amar como você é e não tenho pretensão de te mudar. Mas a pulga atrás da orelha fica dia após dia. Como que alguém que diz gostar do outro consegue ficar tão distante assim? Ser totalmente indiferente ao que recebe de declaração. Eu rasgo o peito e não há absolutamente nada de volta. A não ser aguardar a próxima vez que você resolver aparecer...

Está sendo difícil e eu sei que foi a escolha que eu fiz. Mas é impossível dar o braço a torcer? Não estou pedindo para que mude. Apenas pra abrir mão dessa introspecção toda. Acreditar que dará certo como eu acredito. Eu acredito. Aquele bordão atleticano que nós sabemos que sempre funcionou, mesmo com o time perdendo. O que não perdemos é esse amor inexplicável pelo glorioso. O que eu desejei do fundo do meu coração que fosse com a gente.

Relacionamentos não possuem receita de bolo. Só que é inegável que são feitos de trocas. É uma via de mão dupla. Se tudo o que está na sua cabeça difere completamente das coisas que eu digo, se realmente você não gosta de mim tanto quanto diz, se acha que não poderá ser em nada diferente do que tem sido, por favor, me diga. Aliás, não me diga. Faça dar certo em favor de nós (ou desse pobre desgraçado a continuar mendigar...).

A sensação que me corrói por dentro é a de que você aguarda um limite para colocar um ponto final. E eu só quero reticências com você. E novos parágrafos em um extenso livro... Malditas músicas e poesias que nos dão esperança de que tudo seja diferente. Recursos que eu tenho pra me conectar com o que estou sentindo. E com todas as contradições possíveis, ainda acredito que amores são sempre possíveis. Como o meu por você.

O segundo dia

Não há nada que você possa fazer quando o outro chega ao fim. Toda conversa será compreendida como retórica pura. Daquelas mais miseráveis que tentam convencer o outro de que você está certo.

Aceitação é a palavra de ordem. E é preciso ser forte. É preciso tirar força de onde você só sinta fraqueza. Transformar o limão em limonada bem gelada, saborosa. E tomá-la toda. Até arder a garganta. Quer cliché que esse? Amores são sempre possíveis. E todo fim é um recomeço.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Acabou chorare, uma nova versão

Ele chegou sorridente, beijando aqueles lábios doces enquanto ela ajeitava o cinto de segurança. Perguntou pra ele para onde iam. E ele, perdido na sensação que era estar ali com ela, já não raciocinava. Queria mergulhar no corpo, beber da água doce que era jorrada todas as vezes que fundiam.

Arrancaram dali, partiram em direção ao nada. E ela acelerando o carro por entre outros carros na avenida.
Resolveram tomar um chá. A melhor desculpa para passar tempo juntos e ela se deliciar naquela casinha antiga, arrumada a la pop art mineira.

Os chás, os pães de queijo, o quibe vegetariano. As comidas e bebidas passam a ter significados e lembranças. O morro acentuado, também. O chá comigo não será mais acompanhado.